Era uma vez uma princesinha chamada Rosa.
Rosa nasceu e cresceu num mundinho cor de rosa. Desde pequena, foi acostumada a estar rodeada daquela cor açucarada. Sua mamãe, a rainha, encarregou-se de que tudo, desde as paredes e os tapetes, até os bonequinhos de pelúcia, parecessem feitos de algodão doce.
Muitas rainhas mamães fazem isso. O problema é que a rainha mamãe de Rosa extendeu a pintura cor de rosa ao que ia além das paredes e tapetes e bichinhos de pelúcia. A rainha mamãe de Rosa usava óculos cor de rosa, literal e metafóricamente falando.
A rainha mamãe ensinou a Rosa que nada era mais importante do que a ilusão da perfeita harmonia, da vida perfeita, de perfeitas relações.
Rosa aprendeu que qualquer coisa que escapasse àquela bolha rosada era feio, muito feio. Que o correto era ter sempre um sorriso colgate nos lábios, e ignorar a fealdade dos instintos. Que era melhor sufocar seus desejos, suas vontades, mas principalmente seu desagrado.
E chegou o dia em que Rosa saiu do quarto de paredes cor de rosa, com seu sorriso amarelo. E Rosa conseguiu um emprego. E para infelicidade de Rosa, sua chefe era uma bruxa malvada, que gostava de pisotear subalternos.
Rosa logo tornou-se a vítima preferida da bruxa, pois tudo aceitava, com o mesmo sorriso de algodão doce. E embora sofresse como uma cachorra, Rosa a todos contava como seu trabalho era maravilhoso, como ela importante para o funcionamento da empresa, como sua chefe a respeitava.
No entanto, apesar de suas palavras, a animosidade da chefe a chocava, bem como qualquer tipo de desacordo ou desagrado. Rosa nunca chegou a compreender como era possível que as pessoas se dessem tais luxos, como era possível que se espojassem no lamaçal da discórdia.
Mas Rosa nunca deixou de acreditar em sua bolha cor de rosa. Com o tempo, aprendeu a filtrar a dureza da realidade, de modo que ela mesma pudesse acreditar que tudo ia bem, que sua chefe era uma fada madrinha, que amava seu emprego.
E tão bem funcionava o filtro, que Rosa se apaixonou por um sapo. E resolveu casar com ele.
Rosa convenceu-se de que seu sapo era um príncipe, embora ele fosse frio e escorregadio, e nunca conversasse com ela. Através de seus óculos cor de rosa (herdados da rainha mamãe), Rosa via um príncipe encantado onde havia um sapo vestido de fraque, coaxando.
E se dizia: “Ele é tão introspectivo e pensativo… Esse jeitão calado lhe dá um ar de mistério deveras interessante.”
Casaram na Igreja, como toda boa princesinha de conto de fadas deve fazer; e Rosa mandou decorar o salão da recepção em… cor de rosa, é claro.
Rosa e o sapo tiveram sapinhos, e fizeram de conta para sempre que viveram felizes para sempre.
A moral da história fica por conta de vocês.
Photo Credits: Aussiegall